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Para sempre Emmanuelle

EBERTH VÊNCIO, Revista Bula - 28 nov 2012
O erotismo (ou a pornografia, sei lá, alguém aí, por favor, me acuda!) ficou mais brocha com a morte da atriz holandesa Sylvia Kristel. Corroída aos 60 anos de idade por um câncer de garganta, Sylvia gozou (sem trocadilhos, senhores!) de enorme popularidade em motéis, saunas, cinemas e banheiros.

Faz-se pertinente e justíssimo o seguinte preâmbulo: o erotismo (ou a pornografia, sei lá, alguém aí, por favor, me acuda!) ficou mais brocha com a morte da atriz holandesa Sylvia Kristel. Corroída aos 60 anos de idade por um câncer de garganta, Sylvia gozou (sem trocadilhos, senhores!) de enorme popularidade em motéis, saunas, cinemas e banheiros domésticos do mundo inteiro, por conta da lasciva personagem Emmanuelle, diva da sacanagem cinematográfica nos anos 70. Ao concluir a redação desta crônica, haverei, sim, de render à musa das bolinações genitais vespertinas, um derradeiro e comovido tributo. Mãos à obra! Vamos ao texto, que o tempo urge...

 Meretrício por meretrício, eu prefiro a companhia simplória da pseudo-universitária Emanuele (codinome abrasileirado, escrito faltando um “eme” e um “éle”). Mentira por mentira, eu escolho as enganações de Maria da Anunciação — a iletrada (e desletrada) Emanuele — cuja alcunha foi a ela imposta, ainda nos primórdios da prostituição na cidade de Pasárgada, ocasião em que, impulsionada pela condição miserável de vida, patrocinada pela mãe alcoólatra, contava 14 anos incompletos e 40 quilos mal pesados.

Não me condenem! Não me atirem as suas pedras! Não me tratem como a uma Madalena com um pênis entreaspernas. Conheci as lides alcoviteiras de Emanuele já na adultidade, no auge da sua tarimba profissional. Tenho lá também os meus lamentáveis e desprezíveis momentos de humanismo (muitas vezes, eu sofro de recaídas, esqueço que sou bicho, e me permito humanizar).

Acontece que, prostíbulo por prostíbulo, apraz-me sobremaneira tomar o uísque assumidamente desonesto da boate Buraco Azul, onde Emanuele faz carreira, que beber o café “kopi luwak” — produto importado da Indonésia, cujos grãos são extraídos das fezes de um animal chamado “civeta” — com deputados federais nos subterrâneos do Congresso Nacional. O café coado com grãos catados do coco de um bicho até que é gostoso, mas, a bancada parlamentar é uma merda.

Enquanto secamos uma garrafa de conhaque ordinário, Ema (intimidade permitida tão somente aos fregueses corriqueiros, fidelizados) abre as coxas e o jogo para mim: “Ah... o que eu não daria pelo velho papai-e-mamãe...” (aos leitores impolutos eu explico: o termo papai-e-mamãe diz respeito à manobra copulativa mais utilizada por casais heterossexuais em todo o mundo — perde, quem sabe, para o sempre rápido e utilíssimo coito em pé atrás do muro — no qual o sujeito se encaixa dentro do quadril da amada, executando movimentos uniformes, coordenados, ritmados, desferidos de cima para baixo, até que ocorra o famigerado desmancha-prazer chamado orgasmo).

Com a sinceridade etílica que falta aos padres durante as suas pregações regadas a vinho, Emanuele reclama que, ultimamente, só tem saído com clientes com gostos esquisitos. Recentemente, foi contratada por um homem miúdo, de meia idade, o qual gastou os trinta minutos a que tinha direito sugando-lhe os dedos dos pés, um a um, a despeito dos alertas da contratada quanto ao risco das unhas encravadas e frieiras. Ao contrário do que ela supunha, a interpelação sanitária só fez crescer no homem a excitação, deixando-o ainda mais submisso, diminuído, realizado e, claro, feliz à beça.

Há poucos dias, ela fizera um programa com um postulante a pastor, sujeito de convicções religiosas fragilíssimas. O jovem gorducho pediu (Emanuele conta que ele fazia o estilo “amante dominado com uma levada masoquista”) que ela utilizasse uma edição antiga e luxuosa do Velho Testamento, com capa dura cravejada de penduricalhos, para esbofeteá-lo bem na cara, sem dó nem piedade.

A princípio, Emanuele temeu o ato herege, relutou em cumprir a fantasia do cliente, mas, profissa que é, ateia que é, sacou da publicação e aplicou no pedinte uma surra de bíblia, enquanto este aguardava que o capeta saísse do seu corpo. Emanuele não tem certeza se o capeta saiu ou não saiu, mas o sangue, este sim, saiu pelas narinas, assim como saiu do bolso dele uma nota de 100 patacas com a polêmica inscrição de rodapé “Elvis seja louvado”.

Que ninguém me excomungue, pois não estou aqui disposto a tomar o precioso tempo das pessoas e, supostamente, inventar estórias inverossímeis e caçoar das crendices. Não. A crença ou a descrença alheia não me dizem respeito. Tenho os meus próprios e profundos dilemas. Ocorre que as doideiras humanas não encontram similaridade no reino animal. Aliás, falando em animais, quando uma senhora adentrada na Melhor Idade (“Só se for melhor idade para os médicos e a indústria farmacêutica faturarem com a gente”, brinca a velhota Tia Gerusaleta) insistiu para que Emanuele incluísse no orçamento do programa a participação especial do seu labrador Rin-Tin-Tin, a meretriz refugou à treta.

O texto é besta, fraco, aviltante, de mau gosto, e não termina nunca? A coisa não para por aí, leitores. Nunca antes na história daquele lupanar, Emanuele experimentara um programa tão bisonho: o inédito encontro entre ela, um inexpressivo Deputado Foderal de Pasárgada e seu assessor para assuntos prostitutos.

No ménage à trois, ambientado num quarto barato como se fosse um gabinete de verdade, com jetom e tudo, o assessor exerceu um papel coadjuvante dos mais relevantes (?!), ao se passar pelo cidadão, um homem do povo, um eleitor de cabresto, um daqueles imbecis que trocam votos por tanques de gasolina, por exemplo.

Na encenação de alcova, Emanuele pagava (de mentirinha, é claro) 50 patacas por cada etapa do intercurso, as cédulas sendo arrancadas do bolso do cidadão comum (ali representado pelo assessor voyer) e colocadas, uma sobre a outra, na boca do parlamentar, entre os seus dentes amarelos, como se ele fosse um cão de guarda do Inferno de Dante.

Vagando sobre as quatro patas pela suíte imunda do Buraco Azul, salivando a sujidade das cédulas de dinheiro pelos cantos da bocarra, o deputado exigia mais propinas, mais comissões, mais doações não-declaradas para a campanha, ao mesmo tempo em que implorava ser chamado de mensaleiro safadinho, dentre outras adjetivações aqui impublicáveis.

O cliente só se deu por satisfeito quando quebrou o erário. Mas aí já era tarde demais. O povo já estava completamente fodido.


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