13-06-2011 15:00:50

Helena Ignez : " éramos chiquérrimos, marginais !"

Icone do cinema marginal brasileiro dos anos 60, ex-mulher de Glauber Rocha e Rogério Sganzerla, fala do cinema e do espirito da época durante a ditadura.
Por Daiverson S.Machado (Rio de Janeiro)


Ícone do cinema novo no Brasil, Helena Ignez esteve junto aos grandes gênios da arte cinematográfica. Atuou em clássicos como “O Bandido da Luz Vermelha” e “Sem essa aranha" com beleza e extravagância.

Helena Ignez é tão singular que somente poderia ter sido moldada por relações com homens que viveram o cinema com o corpo e com a alma, no caso alguns dos diretores mais importantes surgidos no país.  Existe um consenso de que Helena não foi descoberta, na verdade ela quem foi incumbida pelos deuses para cruzar os caminhos de Glauber Rocha, Julio Bressane e Rogério Sganzerla.

O último trabalho de Helena Ignez foi a direção da seqüência de “O Bandido da Luz Vermelha” intitulado “Luz nas Trevas” cujas idéias principais do roteiro foram deixadas em páginas escritas por Rogério Sganzerla antes de morrer em 2003. No principal papel feminino, o longa conta com a participação da filha da diretora com o cineasta, Djin Sganzerla, que no filme contracena com o ator André Guerreiro Lopes.

Micmag : O que você aprendeu com Rogério Sganzerla?

É incontável tudo o que aprendi com ele nestes 35 anos que trabalhamos juntos, como cineasta e como pessoa.

M : Você se considera marginal?

Não, nem por sonho, eu acho que estou bem por dentro de todo movimento da sociedade, então não sou marginal de jeito algum. E acho que o cinema que eu fiz também não é marginal, pois foi um cinema voltado à linguagem cinematográfica, também voltado para a idéia sofisticada e popular que não tem nada de marginal.

M : Como tem sido colocar em prática o projeto de “Luz nas Trevas”?

Fazer um filme não é fácil e exige uma preparação grande, estamos nisso desde 2003 e começamos de certa forma vitoriosos porque ganhamos um incentivo para o desenvolvimento do roteiro e depois também ganhamos todos os editais do Estado de São Paulo. Nós filmamos, mas o que ganhamos nestes editais não é o suficiente para a finalização do filme, ele deve ficar pronto por volta de julho.

M : O que podemos esperar deste filme?

Um filme com um roteiro muito interessante, atores ótimos, um filme bastante vital, com esperança no próprio ser humano e também um filme que deverá circular nos festivais.

M : Será um trabalho autoral seu ou você vai manter a marca de Sganzerla?

É o seguinte, eu tive uma participação enorme neste trabalho porque ele não foi deixado como roteiro, foram deixadas 9 páginas de anotações sobre o tema. A possibilidade de voltar a filmar, anotações sobre todos os personagens e o roteiro foi organizado por mim com a colaboração e a interlocução de Guilherme Marback e do Beto Huckenzel, a quem eu dedico o filme.

Então o filme é autoral nesse sentido, porque desde o começo teve uma concepção, que seria a minha sobre o roteiro, já que fui eu que organizei esse roteiro. E em determinado momento eu precisei de outras forças, forças econômicas e convidei Icaro Martins para dirigir comigo. Desde sempre tivemos ótimos contatos, ele jamais discordou de nenhuma das minhas idéias e observações, ele foi super fiel interlocutor.

Para nós na direção de set, o importante era levar as idéias contidas no roteiro para o filme, sobretudo para realizar o roteiro. Isso de uma certa forma não é uma atitude sganzerliana, que improvisava mais, existia uma forte base de roteiro, mas as improvisações eram extremamente soltas. Nesse caso do “Luz nas Trevas” não, é um filme mais convencional no sentido de não improvisar.

M : Porque a escolha de Ney Matogrosso para o papel principal de “Luz nas Trevas”?

Foi indicação das minhas filhas, Paloma Rocha e Sinai Sganzerla.

M : Muitos filmes do chamado cinema marginal brasileiro foram conhecidos pela nova geração através de downloads na internet. O que você acha disso?

Eu acho que tem tudo a ver, os filmes falam de uma maneira mais impactante, é mesmo pra nova geração. Esses filmes tem a força da juvenilidade, de uma certa forma foi o que aconteceu com os filmes de Rogério, sempre foram inventivos e marginais e nesse sentido o mainstream é mais careta e preso às circunstâncias.

E esse cinema muito mais livre trazendo à mente uma coisa mais nietzscheniana, mais Rimbaud, mais Oswald de Andrade, trazendo humor, irreverência, anarquia, exatamente isso tem a ver com a juventude.

Existe essa resposta muito grande, principalmente em relação aos filmes que eu fiz com Rogério e também com Julio Bressane e eu vejo que é a mesma coisa tanto no Brasil quanto no exterior.

M : Como esse cinema é visto no exterior?

No ano passado viajei muito pela Europa e também pela Índia e pela Ásia, com convites e homenagens grandes como foi a do Festival de Calcutá para o cinema de Rogério. Também em Trieste na Itália no Festival de Cinema Latino Americano recebi uma homenagem e recebi outra com um prêmio internacional para meu filme “Canção de Baal”, também estive em Portugal já com um “work in progress” de “Luz nas Trevas”. No ano retrasado foi a mesma coisa, várias homenagens e mostras tanto para Rogério quanto para mim. De uma certa forma esse cinema está sendo redescoberto e em todos os lugares é a mesma gente que gosta dos filmes : os jovens, os cinéfilos, os intelectuais que não estão satisfeitos com o status quo, que questionam, artistas de todos os tipos e de todas as idades e isso é muito legal.

M : O que existe de bom no atual cinema brasileiro pra você?

Tem alguns filmes que eu gosto muito, mas o cinema que me agrada realmente é o cinema experimental, ele transmite muita impulsividade.

M : Como você vê a sociedade atual, onde salvo raras exceções, os artistas não trazem ousadia em seus trabalhos?

São filmes que estão para cumprir as obrigações do mercado, pertencem a uma indústria, mas já não é mais a sétima arte. Existem algumas pessoas que fazem cinema e que não estão mais engajadas nessa idéia, não é isso o que elas querem, mas dentro desses filmes que enchem as salas podem surgir filmes bons.

M : A realidade brasileira atual seria um prato cheio para o deboche e o sarcasmo dos filmes do cinema marginal. Onde foi parar esse sarcasmo e esse deboche no cinema brasileiro atual?

Eu não sei. No “Luz nas Trevas” existe, mas intrínseco no roteiro, a própria linguagem cinematográfica não existe mais, isso é praticamente impossível de fazer. No caso de “Luz nas Trevas” é um filme inserido no mercado.

Então esse sarcasmo fica, mas de uma maneira muito menos cinematográfica do que foi feito anteriormente. No caso especifico dos filmes “Sem essa aranha”, “O bandido da luz vermelha”, “A mulher de todos”, o sarcasmo é um deboche fantástico, intelectual, inteligentíssimo e ao mesmo tempo compreensível por uma grande quantidade de pessoas, isso não tem mais.

M : De “Glamour Girl” na Bahia a musa do cinema transgressor marginal, como se deu essa transformação em sua vida?

Como o anjo de Drummond, eu nasci para ser gauche na vida. Desde esse período de glamour girl, já existia uma certa contestação, a pessoa era a mesma, desde criança eu já sabia, não houve uma guinada. Houve um companheiro fortíssimo na minha adolescência que eu conheci aos 17 anos, a quem eu devo muito o destino que a minha vida tomou, que foi Glauber Rocha. Esse companheirismo me apontou uma coisa nova, mas ao mesmo tempo quando eu o conheci eu já tinha me matriculado na escola de teatro. Mas é claro que para quem viu aquela menina com uma trajetória em concursos de beleza, com sucesso na alta sociedade de repente se tornar atriz de teatro, levando profundamente a sério, trabalhando também no cinema, estudando pra caramba... Para eles era uma guinada, mas pra mim não, era como um caminho natural.

M : Como os filmes do cinema marginal eram vistos na época?

Nós éramos chiquérrimos, marginais chiquérrimos, marginal mesmo entre aspas eram Glauber e Rogério, nós éramos bem amigos de Elyseu Visconty e de alguns atores.

Então era todo mundo super elegante, chique, vivíamos viajando pela Europa, os meninos eram os dândis, os dois, tanto o Rogério Sganzerla quanto o Júlio Bressane, eu era benvestidézima, freqüentávamos os melhores lugares e nos

divertíamos pra caramba, éramos convidados por todo mundo, não íamos, às vezes, não dávamos conta de tanta coisa. Existia uma liberdade chique, uma coisa de F. Scott. Ftzigerald só que em uma era psicodélica e não alcoólica.

M : E de onde vinha o dinheiro?

O dinheiro vinha dos filmes, faziam muito sucesso, muitíssimo sucesso, “O bandido da luz vermelha” foi um grande sucesso, “A Mulher de todos” mais ainda, inúmeros prêmios, eu vivia na ponte aérea porque eu fazia cinema, teatro e televisão, então era uma loucura. O Cinema Novo estava no auge naquela época, esses filmes estavam surgindo, era uma festa, uma grande festa no meio de uma ditadura, de uma pressão política horrorosa, sem dúvida a pior das épocas. Uma época de bombas mesmo, de terrorismo, você tinha que ser uma fera pra lutar contra as feras. E foi aí que surgiu a Belair no Rio de Janeiro.

M : Como foi botar pra fora imagens íntimas dos bastidores da Belair no seu filme, “A Miss e o Dinossauro”?

As imagens são lindas, são em Super 8 e a idéia surgiu logo após a morte de Rogério, quando eu vi aquelas imagens belíssimas, quis falar um pouco sobre elas.

M : Foi uma declaração de amor ? 

Claro. Com uma música linda que o João Gilberto tinha feito especialmente pra ele que é a “Valsa da Despedida”. O Rogério andava muito com o João Gilberto que deu pra ele essa gravação. Então foi isso, uma reunião das idéias e do pensamento dele principalmente, de como o cinema pode ser sublime, de como pode ser espiritual, o cinema espiritual não no sentido vulgar e religioso, mas no sentido do homem poder se sentir imortal.

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