Juiz de Fora foi palco para receber o renomado poeta, ator, declamador e músico Joby Bernabé para um encontro emocionante e marcante para a cultura da cidade. Ontem, dia 11 de abril, através de uma parceria com a Aliança Francesa, o artista se apresentou no Museu de Arte Moderna Murilo Mendes (MAM), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Bernabé subiu ao palco vestindo uma calça indiana e camisa de cetim preta mostrando um estilo bem despojado. Antes de iniciar o show, que começou com trinta minutos de atraso, às 19h30, disse que conheceu alguns lugares do país por onde se apresentou, como Belém (PA) e a capital carioca Rio de Janeiro. E não escondeu a emoção ao dizer que a cidade maravilhosa foi uma das que mais lhe encantou, por sua beleza natural e pela receptividade dos habitantes. Ressaltou ainda que a enseada de Botafogo com o Morro do Pão de Açúcar ao fundo é uma das mais belas paisagens do cartão postal carioca.
Após uma breve apresentação do seu extenso currículo, Bernabé iniciou com um bate papo sobre sua carreira e logo começou a declamação de suas poesias. Com sua voz grave e cheia de recursos expressivos, deu um show de interpretação e foi aplaudido pelo público por diversas vezes.
RELIGIÃO
Entre um poema e outro, falou sobre sua vida pessoal, da paixão pela poesia e sobre religião. Disse que sua família é católica, que cresceu ouvindo o catecismo e comentou que as pessoas deveriam tirar um minuto do dia para refletir sobre a vida, pois muitos não conhecem e não conversam com Jesus. Bernabé fez questão de frisar que não veio pregar o seguimento de nenhuma religião, que era apenas um comentário sobre como ele tira tanta inspiração para compor suas obras.
Explicou que utiliza instrumentos de percussão para fazer os arranjos musicais de suas poesias, devido ao forte poder de envolvimento do público com os sons de batuques afros.
O declamador ensinou também a construção de verbos e de regras gramaticais do idioma creole (crioulo) que tem sua origem a partir do próprio francês. Em uma brincadeira improvisada, fez o público interagir como o jogo das palavras quando perguntava em creole “tu có si có” e o público entusiasmado respondia “lês mi có qui me có”. Improvisou a mesma brincadeira ao som de batuques improvisados feitos com a mão (que lembram os tambores de percussão do candomblé) na bancada e com o pé utilizando o piso do palco em madeira. Emitia sons com a boca e sempre perguntando “tu có si có” e o público dando a resposta “lês mi có qui me có”.
CULTURA
Este evento foi uma do intercâmbio cultural entre Brasil e França realizado pela Aliança Francesa com objetivo de colocar os alunos do curso bem próximos da língua a fim de enriquecer o vocabulário, potencializar seu aprendizado e sair da metodologia das salas de aula convencionais.
Para o professor de marketing e aluno do nível intermediário do curso de francês da Aliança Francesa, Adolfo Freitas, 30 anos, essa integração entre a cultura francesa e brasileira é importante pois, são línguas próximas do latim e proporciona uma abertura para outras culturas, uma vez que o Brasil é cercado pela língua inglesa o que dificulta o interesse dos brasileiros na busca pelo aprendizado de outras culturas.
Apesar da maior parte do público ser composta por alunos do curso de francês, mesmo os leigos conseguiram assimilar o que Bernabé dizia. Para a estudante do curso de letras da UFJF, Laura Nascimento, 25, “apesar dele falar muito rápido eu o achei fantástico e inovador”.
EMOÇÃO
“Eu tenho tantos irmãos,
que não os posso contar.
[...] E assim seguimos andando,
curtidos em solidão”.
O trecho do poema “Los Hermanos” do chileno Pablo Neruda traduz as emoções vividas e servem como inspiração para as inúmeras composições feitas por Joby Bernabé. O poeta é descendente de escravos e mostra a alma do seu país em duas línguas: o francês e o creole. Natural da Martinica, sua notoriedade ultrapassa as fronteiras da ilha. A Martinica é um departamento (estado) do governo francês localizado no Caribe e faz fronteiras marítimas com a República Dominicana ao noroeste e com Santa Lúcia no sul. Tem estatuto de região administrativa francesa, assim como Guadalupe e Guiana Francesa.
Bernabé é contador de histórias e intérprete de poemas autorais. Recebeu prêmios em 2000 e 2009 por seu talento e teve participações em diversos filmes e peças de teatro, além de cd’s gravados com seus poemas declamados.
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